segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Era uma vez um furacão

Era uma vez, uma menina, que se chamava (minha mãe costumava a começar uma história assim, desse jeito, pausadamente)... Bem, não vem ao caso o nome dela.

Ela tinha saúde e bons amigos. Passou muito tempo da sua infância como um molequinho: brincando de luta, de correr, de arriscar. Claro, também tinha suas barbies e bonecas parecidas com bebês – que ela dava banho, trocava de roupa e dava mamadeira.

Não ligava muito pra maquiagem e usava qualquer coisa que estivesse mais fácil de pegar no guarda-roupa. Era diferente sim, e, o mais legal, é que ela não se ligava disso – ou se ligava, se não importava, não que eu me lembre.

Foi depois de encontros em meio à puberdade que a menina passou a perceber como a vaidade era essencial, como as roupas faziam diferença e a como a singularidade (utópica) era importante e como era “out” não ter opinião própria (apesar de a alienação vigorar).

 Isso pode ter feito a menina perder sua naturalidade. Se perder.

E mesmo perdendo sua naturalidade, isso caminhou com ela desde então, como algo de sua natureza. E infelizmente, isso acompanha a maioria das pessoas. Só é com pesar que ressalto isso, pois conheci a menina antes da mudança.

Existe um equilíbrio enorme na vida dela. Um que explode e outro que agüenta. Eles vivem brigando e deixando a menina confusa, cega e com dúvidas. Esse equilíbrio nada mais é do que as pessoas que ao redor dela.

Hoje, receosamente, arrisco afirmar que a menina é medíocre. Que os picos de felicidade e tristeza brincam de montanha russa dentro dela, e que é alto o valor material das coisas. Que ela busca ser uma pessoa melhor, mas o pote de moedas de ouro está longe demais.

A menina sente falta. A menina sente carência. A menina se sente vazia. A menina não se sente... Mas a menina sabe que não está na pior (ou pelo menos deixa  que as outras pessoas a convençam disso).

A menina tem uma boa visão do futuro. Isso ela faz bem, ela pensa pra frente.

A menina, então, vira mulher e constrói sua vida. O sonho de ser reconhecida e de ter seu lugar no mundo é realizado. Ela continua sendo boa no que faz e cada vez chega mais perto do pote de moedas de ouro!

A mulher, como observadora nata, tem muito que oferecer aos seus queridos familiares mirins, transmitindo toda sua sabedoria e torcendo para que suas palavras não surjam efeito tardio.

Então, a senhora acaba em uma casa grande e branca, com vários filhos e netos e cachorros. Com vários porta-retratos de felicidade espalhados pela casa. Com vários raios de luz saindo do coração dela. Com a consciência de que as coisas acontecem do jeito que tem que acontecer... Que as pessoas passam pelo o quê passam por algum motivo... E o que importa é como você leva isso pra sua vida.