segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cheiros

Posso me teletransportar pelo cheiro, sabia? Posso mesmo.

Sentindo o cheiro de “guardado” na toalha toda trabalhada que costumávamos colocar na mesa de Natal.

Sentindo o cheiro de couro do banco do carro, misturado com cheiro de mato da rodoviária, sentido interior.

Sentindo o cheiro de grafite, de lápis, cheiro de folha impressa. Já posso senti-la quente em época de prova.

Sentindo o cheiro amadeirado de tabaco numa recepção do hotel que ficamos em Stuttgart, na Alemanha. É como se conseguisse ver o senhorzinho gordinho da recepção na minha frente.

Sentindo o cheiro de banho que sua pele fica, e como ela fica ressecada pela sua teimosia em não querer passar um creme. Ah, como eu gosto da sua pele...

E falando em creme, posso me teletransportar pro lado da minha mãe sentindo o cheiro de um determinado Victória's Secret .

Cheiro de shampoo masculino é, sem dúvidas, sinal da presença do meu pai. Ainda mais se estiver “úmido”.

Cheiro algodão molhado. Extremo demais? Me faz lembrar de uma caneca do Pikachu. Eu bebia água nela.

E cheiro de plástico. De bonecos de plástico me lembram a fase molecagem. Me lembram meu príncipe de 16 anos.

Sentindo cheiro de pêssego e de madeira  - madeira, mesmo! Tipo móvel. Só esperando ouvir a voz feminina chamando os primos para almoçar.

Sentindo cheiro de coisa antiga nas páginas de livros, é como se já pudesse imaginar a história que eu estava lendo.

Cheiro de cloro! Esse, sim, é gostoso de lembrar. Cheiro de verão, de sol, de risada, de bochecha queimada, de pele descascando. Me faz lembrar que eu queria viver de fotossíntese!


Enfim, como eu disse, é como se, por mágica, eu conseguisse reviver todo o momento. Basta fechar os olhos e olhar pra dentro. É realmente uma sensação inexplicavelmente gostosa.

Ele(a)

E ele(a), numa tentativa de garantir alguma coisa e, de certa forma, se sentir aliviado, se desculpa:

Desculpe-me por ser indecisa(o), por ficar horas planejando algo que não está sob meu controle.
Desculpe-me se te chateio com meus problemas banais.
Desculpe-me se sou banal.
Desculpe-me se às vezes – muitas – pareço estúpida aos seus olhos.
Desculpe-me se não te orgulho e se a maioria das coisas que eu faço, é de errada maneira.
Desculpe-me se tenho preguiça.
Desculpe-me se eu não sou mais suficiente. Gostaria de ser.
Desculpe-me pelas saudades.
Desculpe-me pelos equívocos.
Desculpe-me, mas não sei o que fazer comigo.
Desculpe-me, mas, cansei de me desculpar.
E desculpe-me e por isso também.

E ele(a), o que faz?
A(o) desculpa. 


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Névoa

Não dá.

Nem escrever eu consigo. Minha cabeça não pensa... Só ouve.

E são essas vozes das quais eu tenho que parar de dar ouvidos. Elas sussurram, cochicham e às vezes gritam. Como parar de ouvi-las se fazem tanto barulho e tanto sentido? Ou não fazem... Como parar de cultivar as minhocas se alimentando dos meus pensamentos? Onde está o inseticida?

Em contrapartida, cultivo uma rosa no meu coração. Pra falar a verdade, eu ainda acho que ela é um brotinho. Um boiadeiro gentil quem plantou.

Voltemos a falar da minha cabeça ouvinte e não pensante: como posso estar alienada dentro do meu próprio corpo? Sendo eu mesma a minha “entrigueira”. Essa névoa bem que podia desaparecer e me deixar ver as coisas como elas são. Sem minhocas e sem vozes.


Preciso de um banho que lave minha alma. Preciso de uma mudança interna grande. Preciso... Preciso? Ai, que desagradável sempre precisar de alguma coisa! Que coisa chata. Sempre pedindo, nunca fazendo. Preciso parar de precisar! Isso sim.